professora Nubiana Salazar, formada em Letras - Português, atuo na Rede Municipal de São Francisco de Paula com os anos finais do Ensino Fundamental - 6º a 9º ano ministrando o componente curricular de Lingua Portuguesa.
Sou Nubiana Salazar, 25 anos, residente de São Francisco de Paula e professora de Língua Portuguesa vinculada à Rede Municipal de Ensino. Formei-me em Letras – Português, em 2020, nas Faculdades Integradas de Taquara (FACCAT). Iniciei como docente em São Chico em 2020. Em 2021, ingressei no Mestrado Profissional em Ambiente e Sustentabilidade, da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS), processo que estou concluindo neste ano de 2024.
Na caminhada acadêmica e profissional que percorri durante esses anos de estudo, deparei-me com muitas situações pessoais, profissionais e de pesquisa que se entrelaçam. A caminhada acadêmica me levou a rever minha trajetória profissional, identificando e questionando o “engessamento” e a hegemonia que perpassa os espaços educacionais.
Como professora atuante nos anos finais do Ensino Fundamental, com o componente curricular de Língua Portuguesa, percebi que os textos que líamos em nossas aulas, principalmente os disponíveis em livros didáticos, mas também aqueles que eu selecionava, possuíam um padrão: geralmente eram escritos por autores brancos. Refletindo, então, sobre minhas posturas no mundo, surge um questionamento: cadê os textos assinados por autoras, por autoras(es) indígenas e negros(as)?
Diante disso, nosso papel docente consiste em trabalhar, em nossas aulas, as histórias e culturas afro-brasileiras e indígenas, o que está regulado pela Lei nº 11,645, de 10 de março de 2008, que altera a LDBEN/1996, incluindo “no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática ‘História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena’” (BRASIL, 2008).
Assim, iniciei um estudo que pretendia desenvolver uma análise crítica e propositiva que questionasse e desnaturalizasse a colonialidade do poder/saber presente no cotidiano escolar ao mesmo tempo em que favorecesse a (re)construção de uma práxis de educação intercultural crítica no âmbito do processo de ensino-aprendizagem das artes literárias negras e indígenas no contexto dos anos finais do Ensino Fundamental (EF) no município de São Francisco de Paula/RS.
A colonialidade do poder é um termo cunhado por Aníbal Quijano, sociólogo peruano, que entende que ela é um mecanismo de dominação baseado na ideia de raça, que subalterniza etnias, saberes, línguas, e traduz o “ideal” e “correto” aquilo advindo da Europa. Seria, pois, o que podemos adjetivar como hegemonia, ou seja, a partir da colonialidade do poder, as ações, normas, regras são espelhadas no que é idealizado a partir da Europa, entendendo que outras formas de organização e de expressão são inferiores. (QUIJANO, 2005).
Nos espaços educacionais, muitas vezes essa colonialidade se percebe em “apagamentos”, “silenciamentos” de determinadas vozes. Em meu estudo, foquei nas ausências encontradas em relação a textos literários de autoria indígena e negra, partindo da ideia, em início empírica, de que os materiais didáticos não apresentam textos diversos, sendo a maioria escrita por homens brancos.
Este um pequeno recorte, uma breve contextualização da pesquisa que construí, a qual apresentarei dia 09/02/2024: “Pedagogias decoloniais e sentipensantes no ensino das artes literárias negras e indígenas: percursos de uma práxis em São Francisco de Paula/RS”. Assim, a partir do estudo que realizei – e das ações que continuarei realizando – neste espaço, apresentarei partes e desmembramentos de minha pesquisa.
Abraços!
Até mais!
07 de fevereiro de 2024.
Professora Nubiana Salazar
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 11.645, de 10 de março de 2008. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. Brasília, 10 mar. 2008. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11645.htm. Acesso em: 22 jan. 2024.
QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, Eurocentrismo e América Latina. In: LANDER, Edgardo (Org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO, 2005. p. 107-130.